Wednesday, November 29, 2006

Manuseie-me com cuidado!

Assim como as roupas que usamos, também nós deveríamos ter etiquetas com instruções de manuseio. Algo como um singelo aviso como: Manuseie-me com cuidado, para não causar estragos ou algo mais específico, como: Não me submeta a muita pressão, ou eu fujo ou ainda Não me maltrate, ou eu encolho...ou explodo e assim por diante.
Algumas pessoas são feitas de um tecido resistente, outras de uma delicada seda.
Algumas partem-se em tiras com facilidade, outras mantém a sua integridade e beleza mesmo quando submetidas à situações adversas. Mas se você olhar de perto, bem de perto, verá que suas fibras sofreram no processo...que há cicatrizes. Poucas pessoas podem vê-las, mas elas estão lá, prestes a romperem o mais rude dos tecidos...quando menos se espera.
As pessoas, como os tecidos, têm diferentes origens, das quais quem as 'manuseia' deveria ter ciência. Não apenas porque essa informação poderia explicar-lhe as peculiaridades, mas porque o conhecimento da origem daquela peça, da sua manufatura, revela-lhe o valor, a originalidade. Faz-lhe única ou banal; traje de baile ou pano de chão.
Mas não podemos vir acompanhados de etiquetas, podemos?
Não.
Não sabemos do quê somos feitos até experimentarem-nos. Até nos testarem a elasticidade, a resistência do viço das cores, da trama das fibras, da qualidade das partículas que nos compõem. Não. De nossa qualidade nós só temos uma vaga idéia...não sabemos do que somos feitos até viver, até amar, até nos colocarem à prova.
Escrevi esse texto originalmente em inglês, para o meu outro blog, mas acho que nessa minha 'tradução livre' ele ganhou mais riqueza, novos significados...e, quem sabe, um pouco mais de beleza.
Like clothes, people should have tags with instructions. Something like "Hand me carefully, to avoid any damage"; "Don´t apply any pressure on me, or I´ll run away"; " Don´t treat me bad or I´ll shrink...or explode" and so on.
Some people are made of very thick 'cloth', others of silk. While some can be ripped in shreads very easily, others keep their beauty and integrity under very bad circunstances. If you look closer, though, you´ll see that some damage has been done to those fibers, something that few people can see, but it´s there.
People like fabric, have different backgrounds that whomever is going to hand them should be aware of - it does not only explain things but makes us appreciate more what we have in our hands.
But we can´t have tags, can we?
No. We don´t know what we are made of until we´ve experienced something...until someone had taken us, until we have lived...and loved.

21 comments:

Nessita! said...

A gente também podia vir com bula...

Vivi said...

Er... vou fazer um comentário fútil... adorei a ilustração: esses símbolos sempre me confundem!

Deni Meyer said...

Hahahaha! Te confesso que também não sei ler as etiquetas das roupas - toco na máquina e vejo o que acontece!

Dona Spirulina said...

Adorei o texto, mas fiquei curiosa: outro blog?
Eu tb sempre me confundo com esses simbolos.

Deni Meyer said...

Obrigada!! Bem, eu tenho um outro blog, só meu, onde eu só escrevo coisas sérias, exercito o meu inglês e solto o meu lado B.

amendokrem said...

Penso que a única diferença entre nós e as roupas é que, mesmo depois de se tornar paninho fedorento de pia, ainda é possível voltar a ser "linho nobre ou pura seda"...ainda bem!

Deni Meyer said...

É verdade...sábias palavras, Amendokren.

Vivi said...

Amendokrem, às vezes tenho dificuldade de acreditar nisso... ando descrente demais da bondade das pessoas.

amendokrem said...

Minha bonecra, a tática é a seguinte: só se pensa naquelas que valem à pena...num universo tão grande sempre tem alguém que fica na peneira.

Deni Meyer said...

Humm, eu interpretei o comentário da Amendokren sob uma outra perspectiva, imagino....pensei que, apesar de a gente ser maltratada e de as marcas ficarem lá impressas nas nossas fibras para sempre, há uma forma de resgatar o brilho, o valor...ainda somos tecido, a essência ainda está ali...sempre pode-se cerzir os rasgos...e daí surgir uma peça diferente. ; )

Vivi said...

Deni, acho que vc usou uma figura bonita pra descrever o processo de crescimento. Sim, pra mim é isso mesmo. Talvez não voltemos a ser tecido novo, mas as costuras e os remendos acabam fazendo de nós algo único e precioso. Mas quem mesmo está disposto a costurar as próprias feridas? eu vejo as pessoas tão presas às próprias dores... sei lá, né?! vai ver, estou de mau humor hoje.

amendokrem said...

ô, ô, ô a Denise é "o terror"...

Deni Meyer said...

Só digo mais uma coisa, Vivi...e Hugh e qualquer pessoa que um dia amou e ainda vai amar:
'Young lovers seek perfection. Old lovers learn the art of sewing shreds together and of seeing beauty in a multiplicity of patches.'
(para quem não se lembra, esse foi o poema que homem misterioso deu para Marinanne em Paris, no filme Colcha de Retalhos)

Vivi said...

Chuif! :,-)

Dona Spirulina said...

Tri lindo esse poema, se eu entendi bem, preciso melhorar meu inglês. Mas isso não vale! Blog só teu?! Deni, Denise, Quero ler! ;)

Deni Meyer said...

Puxa! Será que ganhei uma fã?! Jane, não faz assim senão eu vou ficar impossível!!!Hehehehehe

Dona Spirulina said...

Ah, eu tô curiosa, quero ler!!
Fiz uma burrice no meu blog, mudei o modelo e sumiram os links q eu tinha colocado lá, alguém me ajuda! Não lembro como q fiz pra colocar eles lá antes...

Anonymous said...

Incrível Denise... to besta com essa tão feliz e apropriada analogia... sabe que eu jamais tinha pensado em fazer esse link?? Interessantíssimo...
Agora vc conseguiu me deixar 'meditabunda'...
Lembrei-me de inúmeras vezes em que o 'tecido' quase se rompeu... mas enfim, por algum motivo que um dia ainda quero descobrir, as moléculas essenciais permanecem, seja com rasgos, dobras, manchas, remendos...o que for... ainda é o que é... e para alguma coisa deve servir naum é mesmo???

Anonymous said...

Tenho algo a dizer sobre o post anterior...
Amendokrem... se o teu jeito de contar uma história séria já é por natureza hilário... imagina esses títulos ali... bah eu preciso saber dessas histórias... (curioooooossssssssssa)...

ah sim... pode ter uma diarréia mental... limpa o 'intestino espiritual'...

Deni Meyer said...

Patrícia! Que legal que tu apareceu! Já estava sentindo tua falta!! Que bom que gostaste...gostei muito de escrever o que escrevi...sem falsa modéstia! Ah, que se dane! Tem horas que a gente tá inspirada...pena que depois passa!! Hehehehe...mas vamos lá...valeu!!

Dona Spirulina said...

Porque parou, parou porque??!! E o link pro outro blog?