Wednesday, January 17, 2007

Diários de metrô, trem, avião, etc... - parte I

Dando início ao relato da minha saga pelo Velho Mundo, passo a narrar-lhes, queridos leitores, o fim da jornada. O fim?? Sim, queridos, essa temporada no hemisfério norte me deixou ainda mais stylish, inclusive narrativamente (ohohohoh!).
Mas falando sério, o episódio é tão digno de nota que eu achei melhor começar por ele.
Estava eu, passageira classe econômica, bufando por não ter conseguido, sabe-se lá por que motivo, efetuar o meu check-in nas máquinas de auto-atendimento da British Airways, quando fui encaminhada a uma fila. Depois de alguns breves instantes sou atendida por uma sorridente moça asiática que me anuncia que (por motivos até o momento ignorados) meu bilhete de retorno sofreu um upgrade de classe econômica para classe executiva (http://www.britishairways.com/travel/clubworldonboard/public/en_br).
Ainda sonolenta e já saudosa de my darling não prestei muito atenção ao que a moça me disse, preocupando-me mais com o correto etiquetamento da minha bagagem. Eis que, após mais alguns minutos na sala de embarque, sou encaminhada à aeronave (e que aeronave!). Tal como a da ida, tratava-se de um daqueles monstros de dois andares, do tipo que até então eu só tinha visto na televisão (http://widebodyaircraft.nl/b7474baw.jpg). Para o meu deleite, o meu assento ficava no andar superior. Subi as escadinhas e ...entrei no céu!Não, ainda não haviamos decolado, mas nem precisava. Eu pisava nas nuvens! Apenas um mísero assento ao lado do meu e separados por uma divisória, para conferir maior privacidade. O banco, espaçoso, inclinava-se quase a ponto de deitar. Sim, e havia um descanso para pernas. E espaço extra para bagagem de mão, televisão, luminária na cabeceira, porta copos, mini-edredom, necessaire com creminhos, escovinha de dentes, meias, ear-plugs, máscara e um menu digno de restaurante cinco estrelas. Antes mesmo da decolagem já me foi oferecida uma bebida (água, champagne ou suco de laranja). Como eram 11:35 da manhã, achei que um suco estava de bom tamanho.
Logo após a decolagem, recomeça o serviço de bordo. Mais bebidas. Desta vez peço um chardonnay argentino, safra 2004, o qual me é servido com dois pacotinhos de macadâmias. Nunca tinha comido macadâmias. Deliciosas!
Olho ao redor e...estou cercada de meia dúzia de homens de meia-idade bem vestidos e com caras entediadas. Algumas mulheres acompanhadas de seus maridos e dois homens um pouco mais jovens. O andar não estava lotado. Não havia ninguém sentado ao meu lado.
Ainda me perguntava o que raios estava eu fazendo lá - no meus jeans usados, blusa amarfanhada, casaquinho de lã e meias encardidas - quando a chefe de cabine interrompe meus pensamentos.
- Excuse-me. Is this your seat or have you changed it? Ela me pergunta com um sotaque carregado.
Eu, tentando disfarçar o pânico - pois então já não restavam mais quaisquer dúvidas na minha cabeça de que havia sido vítima de um terrível engano - engoli em seco e respondi com a impáfia e a segurança de quem sempre freqüentou a classe executiva:
- No, this is my seat. Have always been. I haven´t change it!
A comissária, então, checa novamente a lista de passageiros e, com ar apologético, me informa do ocorrido. Ao invés de sentar-me no assento 61 K eu sentara, por descuído, no 61 J. Porém, como aquele não estava ocupado, não havia qualquer problema.
Foram momentos de tensão. Já me via recolhendo os meus trapinhos, cabisbaixa, descendo as escadas para juntar-me à galera do porão, da senzala, enfim, do andar de baixo, em meio a olhares sarcásticos de executivos e leitoras de Caras.
Passado o susto, usufruo durante 11 horas e meia dos prazeres da classe econômica: toalhas quentes e umidecidas, vinho francês, entradas de camarão e alcachofras, pães ciabata com azeitonas pretas e/ou adornados de lâminas de pistache torrado, caçarola de frango com cogumelos selvagens, tortelines aos 4 queijos com molho cremoso, délice de banana com chocolate e crème anglaise e frutas da estação, seguidas de chá inglês ou café.
Farta e sonolenta, assisto deliciada "The last kiss", " O ilusionista" e comédias britânicas e ouço o último álbum do Kasebian e do The killers (por sinal, matador!).
Emocionada com tamanha sorte, resolvo tentar retribuir o regalo divino. Deposito, com um sorriso nos lábios, os últimos pounds restantes da minha niqueleira no envelopinho da UNICEF. Que Deus lhes dê em dobro!!!
Sorridente e relaxada, desembarco às 09:10 da noite no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em cujos duros bancos eu tento em vão me aninhar para dormir até as 05:30 da manhã quando, finalmente, parte o meu vôo para a capital gaúcha.
Nada é perfeito.

6 comments:

Vivi said...

Depois de ler esse relato, as minhas viagens na crasse econômica me pareceram ainda mais deprês... sacumé, o cara da poltrona ao lado sempre é chulezento, e o garfinho de prástico sempre quebra antes do fim da refeição... :-( quem sabe um dia a sorte não me sorri... kkkk

amendokrem said...

Eu me remeti imediatamente ao dia em que entrei em ebulição na última fila do Aerotinga (vôo de Milão para São Paulo), não sei o que era aquilo, mas parecia que tinham ligado um fogão de quatro bocas embaixo de mim. E o bolo que desceu a seco no mesmo avião? Não é fáci...

Deni Meyer said...

É minha filha, só quem já andou de Aerotinga sabe a dor e a delícia que é!!! Hahahhaha
Mas nem tudo são flores nessa vida. Também já dei os meus bordejos de aerotinga e easyjet (versão inglesa do aerotinga) onde sequer bolo tijolo eles servem!! Aliás, nem água...pelo menos de graça!

Anonymous said...

PITYYYYYYYYYYYY show!!!!! ri muito parece comedia do Mr. Been (acho que é assim que se escreve), ou pegadinha do Faustao (buuuuuu)imaginei todo o conteudo da historia, vc descendo as escadas de cabeça baixa arrastrando um casaquinho pelo corredor, que bom que vc voltou... bjs

Victor said...

Hugh anuncia que, depois dessa exibição nojenta do sucesso do neoliberalismo moderno, vai parar de fazer comentários nesse blog e entregar-se ao estudo enloquecido, dia e noite, para poder passar num concurso e ganhar um salário obceno o bastante para transformá-lo num porco capitalista cheio da bufunfa.

Deni Meyer said...

Hahahahahha...tá certo...a vida jamais será a mesma depois dessa minha experiência do outro lado! Aproveite e compre um jatinho e convide os amigos para dar uma banda de grátis, que tal?!