Monday, June 25, 2007

- "Manhê, quando é que a gente sabe que é adulto??"

Daqui há dois anos chego à casa dos 30...mas vocês me conhecem...quando eu não tenho motivo para entrar em crise, eu invento um, ou nesse caso, antecipo...sim, porque tudo na minha vida acontece em alta velocidade.
Também não sei se crise seria exatamente o nome, é mais como uma alongada reflexão, uma retrospectiva dos últimos anos, uma parada para pensar o que serão os próximos anos.
Dizem que os 25 são os novos 18 e que os 40 são os novos 30...até pode ser, mas isso não salva ninguém de pensar um pouco que seja a respeito quando chega aos 30, ou seria eu tão antiquada assim?
Não importa que hoje possamos ter filhos aos 40, 50... eu, pessoalmente, não quero ser avó da minha filha...mas é inevitável pensar que só se têm mais alguns anos (e que passam muito rápido) para viajar o mundo, viver paixões avassaladoras, experiências alucinantes, construir uma carreira sólida e rentável, cuidar do corpinho, estudar francês, alemão, fazer uma pós-graduação, comprar um carro, um apartamento, conhecer o homem da sua vida...para aos 35/38 ter aquela vida de comercial de margarina: corpão enxuto, carreira, maridão, filho, casa e carro na garagem.
O mais engraçado é que há um movimento quase que instintivo até aí...há, obviamente, quem se rebele contra o processo e resolva curtir umas até os 35 e depois ver como fica... e eu descobri que não posso culpar ninguém...a vida é muito boa, muito misteriosa e a gente nunca sabe quando ela vai acabar mesmo...se aos 80 ou na primeira esquina amanhã, indo para o trabalho.
Não, eu não penso que a vida acaba com os filhos ou com a maturidade, mas a perspectiva da gente muda, por mais que se alimente aqueles planos de viajar de mochila nas costas pela América do Sul ou pelo sudeste asiático, nunca vai ser a mesma coisa carregar aquela mochila aos 37 anos, junto com a mochila da Hello Kitty ou do Spiderman do seu filho.
É um mundo inteiramente que se abre, com ou sem filhos, com ou sem casamento após aquele momento em que você sê dá conta que tem que pensar na aposentadoria, que os pais não são eternos, que as contas estão chegando, que morar num quarto e sala até os 50 anos não é um projeto tão viável...
É um misto de raiva e alegria saber que você se sustenta, pode fazer o que quiser o com seu tão sonhado dinheiro, mas saber que para ganhá-lo você não pode mais fazer tudo o que quer e quando quer...é foda se encontrar na frente dum computador às 14h duma segunda-feira qualquer, numa repartição pública com todas essas coisas na cabeça...dá vontade de rir e de chorar...
" - manhê!!!! Será que eu cresci e não me dei conta?"

9 comments:

Vivi said...

Fófi, é aquela coisa. O tempo já está mais adiantado no meu relógio: há pouco completei 34, mas - surpresa! - continuo alimentando muito das suas [nossas] dúvidas. Não creio que cheguemos a encontrar o ponto ideal entre todos os anseios que nos movem. A gente tenta, e erra, e continua tentando. Só posso dizer uma coisa. Se eu morrer amanhã ou depois, a caminho do tribunal, posso dizer - ou cantar -"se chorei ou se sofri, o importante é que emoções eu vivi".

Deni Meyer said...

Hehehehe...tá certo o rei....acho que é esse o espírito...afinal como dizia o meu sábio e sempre lembrado avô, Seu Pedrinho..."nada se leva da vida senão a vida que se levou!" ..." bebe e verás que a vida é outra (já dizia Pedrinho Barbosa que morreu de cirrose hepática)!" e por aí vai....

Vivi said...

Tô com o seu Pedrinho e não abro! Falando [mais] sério, fófi, a verdade é que, ainda agora, não sei a que vim! Nem apartamento, nem família de propaganda de margarina... nada mais do que uma velhusca cheia de dúvidas!

Victor said...

"corpão enxuto, carreira, maridão, filho, casa e carro na garagem".
Deni, vc só pode estar sendo irônica. Em todo o seu texto vc descreveu padrões 'standarts' de conduta que, supostamente, lhe dariam o rótulo de 'pessoa feliz'. Bem, sinto muito te informar, mas nada disso vai acontecer. Porque isso não é você, isso não sou eu. Isso é uma descrição mais ou menos normótica de como a vida deveria ser (condicionada, by the way, por um estilo de vida ocidental-burguês). Isso é uma 'receita de bolo' pronta para nos iludir e evitar de crescer, de descobrir, por nós mesmos, o que nossa vida é de fato, e o que realmente deveremos fazer dela. Ir atrás dessas miragens (carreira, corpão, paixões) é seguir um mapa padrão que nada fala de nós mesmos. O buraco, é mais embaixo. Viver significa enfrentar às vezes a própria mediocridade, as frustrações e as perdas, o que há de cotidiano e pequeno nas nossas vidas. Viver significa aprender a ter amor ao destino, não importa aonde ele nos levou. É preciso, enfim, apreender a se livrar daquilo que a sociedade incutiu em nós como sendo coisas que devemos querer, para descobrir, com muito trabalho, o que nós realmente queremos.

Deni Meyer said...

"Viver significa aprender a ter amor ao destino"...putz! me ganhaste com essa...essa vai para o rol das melhores frases que eu já ouvi...(sem qualquer ironia)

Mas sim, o corpão, maridão, etc...têm um quê de ironia...e um quê de verdade, ainda que isso não seja eu, ainda que não me preencha ou reflita os meus desejos, eu estou no mundo...estou nesse modo de vida ocidental-burguês...acho que nenhuma hipótese é descartável a priori, a vida da gente a gente vai construindo dia-a-dia ... isso me lembra um texto que a Martha Medeiros escreveu sobre o Sartre e a Simone, dizendo que em certo ponto eles se tornaram vítimas da própria originalidade...acho que essa conversa não termina por aqui...

Vivi said...

Eu comentava com a Deni e o Vic que, na minha opinião, a única coisa potencialmente ruim é empurrar as coisas com a barriga. Por mais difícil que seja, temos de fazer escolhas conscientes, pra depois não ficarmos reclamando que a vida foi dura pra nós. Nós estamos frente a uma encruzilhada, é verdade, e não temos certeza alguma... mas isso não não tira o dever de pensar sobre elas. Sinceramente, eu não acho que casa e filhos sejam sinônimo de felicidade, até porque felicidade pra mim não é uma meta a ser alcançada. mas eu quero, sim, descobrir quais são as metas que movem verdadeiramente. Aí, nessa conversa, eu me lembrei do Castañeda, o trecho é meio batido, coisa e tals, mas acho que vale a repetição. Demorei porque quis procurar o original:
(...) Todos los caminos son iguales, y no llevan a ninguna parte. Por lo tanto, el guerrero escoge un camino que tenga vida propia, y a partir del momento en que comienza a recorrerlo, se alegra, se transforma en el camino mismo. Su decisión de seguir en él depende sólo de la alegría, y no de su ambición o de su miedo. Por ello, antes de actuar, siempre se hace la pregunta: Este camino, ¿tiene corazón? El guerrero sabe que un camino tiene corazón cuando es uno con él, cuando experimenta gran paz y placer al atravesarlo.

Deni Meyer said...

Acho que isso encerra com maestria esse capítulo...não trocaria uma vírgula de lugar!!!

Victor said...

Bah, muito a fú o Don Juan!

Nessita! said...

um comentário meio tardio, mas lá vai: também me pergunto por tudo isso, todas essas dúvidas, se isso, se aquilo. Muitos mas poréns, todavias... às vezes paro e penso se não estou desperdiçando minha vida num trabalho razoavelmente medíocre, numa vida financeira apertadinha, numa busca pelo que eu nem sei exatamente. E penso mas tento seguir em frente. Realmente viver significa aprender a ter amor ao destino. Amei essa frase, super verdadeira.

bem, é só. mas esse tema é um ótimo papo pós labuta, happy hour. Rende muito ;)

bjs