DIVÃneios: Bonecas Russas

No domingo, depois de cumprir a obrigação eleitoral, assisti Bonecas Russas, a seqüência de Albergue Espanhol que acabou de chegar às prateleiras das locadoras. Talvez o clima pouco alvissareiro do domingo tenha afetado meu humor, pois não posso dizer que o filme tenha sido tão divertido quanto o primeiro. Mas você certamente não está interessado na minha opinião pouco abalizada sobre política e cinema. O caso é que, depois do filme, não consigo deixar de lado a impressão de que há algo errado - muito errado, aliás - com o nosso tempo. Se a geração precedente nos libertou de inúmeros preconceitos de ordem religiosa e moral, abençoando-nos a opção pelo materialismo e o sexo casual, parece que, secretamente, nos amaldiçoou com uma espécie de fastio crônico, que nos impede de provar da vida em grandes colheradas. A maior gafe, hoje em dia, é lamber o prato depois que a sobremesa terminou. Ainda que abundante, a calda deve ser desprezada e, assim que possível, eliminada com papel-toalha e água corrente, que é pra não ficar qualquer vestígio. Talvez esperando que o cozinheiro dê mostras de virtuosismo crescente, muitos de nós adiam pela vida afora a satisfação inigualável de uma refeição concluída. Mas acho que estou entre os gulosos: espero que minha história tenha algo que saboreei na de Elsa y Fred. Esta, a minha dica gastrocinematográfica da semana.