Friday, November 17, 2006

Fairy Tale


Quem hoje me vê faceira e despreocupada talvez não imagine que já vivi meus dias de vacas magras. Tempos atrás, quando a última novidade do mercado de refrigerantes antendia pelo nome de Cherry Coke, o dinheiro era tão curto, que almoçar fora era um verdadeira excentricidade. Como outros estagiários, eu costumava trazer a refeição de casa em pequenos potes plásticos, que aquecia no microondas de uso coletivo. O menu variava muito pouco. Num dia, era arroz e guisadinho de batata; noutro bifinhos ao molho de tomate; depois era a vez do guisadinho de cenoura. Lembro-me de invejar secretamente as lasanhas e os fricassês que os mais abonados engoliam com prazer a meu lado. É verdade que, graças à limitação orçamentária, nunca tive problemas com a balança. Quero dizer, nunca estive acima do peso. Isso porque eu seria capaz de gastar todo o meu salário com quem me fizesse engordar um pouco. Eu era tão magrinha, que precisava de alguns truques para parecer mais volumosa. Não que eu acertasse sempre. Uma vez, comprei na Carlos Alberto um macaquinho de cetim vermelho para ir a uma festa dos alunos da Medicina. Por muito tempo, o modelo cintilante foi piada entre as meninas da faculdade. Mas ser magra e meio jeca não era nada. Ruim era que, para visitar a melhor amiga eu precisava pegar dois ônibus, e a viagem nunca demorava menos de duas horas. E tinha de levar uma sacolinha para passar a noite, porque voltar, nessas condições, acabava sendo perigoso. Pior era ter de recusar o convite para ir à praia por não ter como pagar cinqüenta reais. Hoje em dia, quando penso sobre isso, sinto-me como a gata borralheira que se transformou em cinderela. Só que a fada-madrinha fui eu, e a varinha de condão o dinheiro que ganhei com meu próprio esforço. Quanto ao príncipe encantado, bem, esse eu conheci anos depois que o baile terminou.

9 comments:

Deni Meyer said...

E aí, princesa?!! Hahahhahaha...bah, vacas magras? Tá mais pra vacas anoréxicas E bulímicas!!! Bem, o que importa é que a jequice se foi com a pobreza!!

Deni Meyer said...

agora você é fashion, nêga!!kkkkkkkk
Será que foram as dicas da Amendokren? kkkkkkk
Vou calar a boca antes que me dêem uma bifa! Fui!!!

Vivi said...

Princesa não, criatura! Self made woman!

Deni Meyer said...

Bu! Achei que tu ias gostar da minha cantada de caminhoneiro! Hehehehehe...Lembra do Tonhão da TV Pirata? ...mas tudo bem...minhas piadas não estão agradando hj, vou me recolher à minha insignificância.

amendokrem said...

Me vi neste post...adorerei! Me lembrei dos 10 dias de colônica de férias da ASSBM de Cidreira(Associação dos Subtenentes e Sargentos da Brigada Militar). Os amigos da minha irmã perguntavam na praia: vocês capinam na colônia? O pessoal não perdoa os menos afortunados.

Nessita! said...

Nada como ser uma gata borralheira moderna, que pode ser sua própria fada madrinha. O bom é que nesses casos pode-se escolher o príncipe encantado e não esperá-lo com o sapatilho de cristal. Tempos pós-modernos são outra coisa!!!

bjs

Anonymous said...

Ah não... Viviane Poitevin Mélega... se tem uma pessoa que conhece o teu passado... dá licença... mas essa pessoa sou eu!!!!!!!!!
Desculpa minha amiga... mas faltam algumas passagens muito importantes nos seus anais...
1) o ritual da galinha
2) idas ao Opinião de busão (o famoso JIPE)
3) as maravilhosas empadas de 50 centavos que eu te levava no escritório do Dr. Roberto sexta à tardinha antes do opi...
4)as noites dormidas eu tu e as tuas irmãs espremidas no quarto de vcs...
5)a FAFARC em que a gente naum foi fantasiada de m* nenhuma


Ah fala sério... a nossa pobreza conjunta até que naum foi tão desgraçenta assim....

Victor said...

"O ritual da galinha"??? Isso merece uma explicação já! Minha imaginação já está vianjando! huahuahua!

Victor said...

E mais algumas para a lista de pobrices passadas:

1) Quando eu tinha 18 anos, morava em Sapucaia e tinha que pegar ônibus (quando o metrô tava de greve) ou metrô sexta-feira de noite para ir 'curtir a noite em Porto Alegre'.

2)Ir ao único lugar onde não precisava pagar para entrar: a Osvaldo Aranha, nos áureos tempos do Bar do João.

3) Na Osvaldo, como meus amigos e eu não tínhamos grana, comprávamos uma garrafa de Vodka da mais barata, e uma garrafa de coca-cola para misturar e agüentar o tranco.

4) Teve um dia em que não tínhamos grana nem para voltar, e eu e um amigo pedimos para entrar de graça no Metrô a um funcionário! E conseguimos convencê-lo! huahuahua

5) Sem dinheiro para ir à praia? Ora, fique duas horas com o dedo esticado, junto com um amigo, pedindo carona (da segunda vez, convencemos uma amiga a pegar carona também, e aí já nos primeiro 15 minutos descolamos carona, eheh).